O HOMEM QUE FOI COLOCADO NUMA GAIOLA - minha experiência pessoal sobre a produção da loucura em nossa sociedade
(Rollo May, resenha de “O homem à procura de si mesmo”)
Neste texto da loucura, podemos ver como ela
pode ser fabricada de forma gradual e sutil, em situações que aparentemente nos
deparamos e que geram desequilíbrio e instabilidade mental.
Observando o texto, percebemos como o
enjaulamento do homem contribuiu para a perda de sua identidade, a angústia e o
conformismo fizeram ele perder o prazer de viver, a alienação fez com que ele
parasse de olhar para si e se conformasse no “novo modelo de vida” em que ele
foi incumbido.
Algumas vezes na vida, nos deparamos com
situações assim. Lembro-me que consegui um emprego em um hospital de
referência, porém o trabalho tinha uma carga horária muito puxada, um pouco
longe de casa e o espaço em que trabalhava era minúsculo, sem janelas, cercado
por paletes e estantes de prontuários. Além de termos metas para digitalização
e codificação de prontuários, passava o dia sentada, fazendo aquele movimento repetitivo
e monótono, por conta disso desencadeei uma tendinite no braço direito. O nome
daquele hospital era de referência, mas aquele “nome” estava “pesando” pra mim.
Coloquei no papel para ver se estava valendo a pena todo aquele esforço que eu
estava fazendo, porém que não estava sendo reconhecido. Eles me mudaram de
setor dizendo que seria melhor para mim, por conta de eu ter desencadeado tendinite,
mas na verdade fui para um setor pior chamado CEDOC, onde me colocaram para
“tirar grampos” e digitalizar prontuário, foi então que minha saúde regrediu
ainda mais, então falei que não ficaria mais ali, aquele lugar não “me cabia”,
um hospital que cuidava de pacientes, mas negligenciava a saúde de seus
funcionários. Então fui pedir minhas contas e quando cheguei para falar com a
gerente ela me disse: “...Mas nós tínhamos uma plano melhor para você aqui
dentro, você vai mesmo fazer isso?”. Meus olhos se encheram de lágrimas, pois 1
ano e 3 meses ali, fui esquecida, acometida de uma enfermidade que não se
importaram em me dar a devida assistência, imagina levar uma pessoa com
tendinite a um setor de digitalização de documentos e grampos de prontuários
para tirar, e ouvir da gerente que se eu continuasse eles teriam “planos
melhores pra mim”, imagina que “planos eram esses?”. Infelizmente demorei muito
para “acordar”, fiquei literalmente alienada naquela situação, que até hoje de
vez em quando acarreta dores no braço e ombro que usava para codificar e
digitalizar os prontuários.
O “status” de falar que trabalhamos em um lugar
de “nome”, não deve ser maior ao valor que temos que dar a nós mesmos,
precisamos considerar mais o que sentimos e não sermos desumanos com nós
mesmos. Continuar naquele hospital de “nome” já estava sendo loucura para mim,
o ambiente e as condições eram inapropriados.
Hoje aprendi que existem “certas conquistas” que não valem a pena, a
melhor conquista é aquela que te dá paz, que te dá qualidade de vida, que te dá
prazer e não dor. Nossas escolhas principalmente no mundo organizacional podem
afetar várias áreas de nossas vidas, como afetou a minha saúde, emocional e
física, por isso temos de ter um olhar cuidadoso e não nos iludir, com cargos,
nomes de empresas, títulos...pois nada disso poderá definir o caráter, os
princípios e os valores que temos.
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